Military Review Edição Brasileira Março-Abril 2014 | Page 52
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S TRÊS PRINCIPAIS fontes de oficiais para
as Forças Armadas dos Estados Unidos
da América (EUA) são o Programa de
Formação de Oficiais da Reserva (Reserve Officers’
Training Corps — ROTC); as escolas de aspirantes
a oficial (officer candidate school — OCS), que
são voltadas a sargentos ou civis portadores de
diploma de nível superior e têm de 6 a 17 semanas
de duração, dependendo da Força; e as academias
militares (que oferecem formação em nível de
graduação). Cada uma dessas fontes tem o dever
de formar comandantes com caráter, incumbidos
de liderar os militares do Exército, da Marinha,
da Força Aérea, do Corpo de Fuzileiros Navais e
da Guarda Costeira dos EUA. A importância de
formar comandantes com caráter é incontestável,
até mesmo axiomática. Entretanto, o que se exige
e se espera deles pode ser objeto de debate. O
objetivo deste artigo é elucidar o que significa ser
um comandante com caráter e recomendar uma
abordagem holística em cada uma dessas fontes
de formação de oficiais.
A confiança é conquistada e mantida
com a demonstração contínua de
caráter, competência e compromisso.
Primeiro, é essencial definir e entender “caráter”. Segundo, é preciso determinar um método
teórico ou empírico com base no qual se possa
desenvolvê-lo. Terceiro, cada fonte de formação de
oficiais precisa conceber e implementar atividades
tangíveis nos programas de desenvolvimento. Por
fim, é preciso chegar a um consenso quanto aos
atributos observáveis e mensuráveis esperados.
Definição de Caráter
Segundo a Circular 1-101 da Academia Militar
dos EUA, caráter consiste nas “qualidades morais
que constituem a natureza de um líder e definem suas decisões e ações”1. Joel J. Kupperman,
Ph.D., renomado professor, escritor e filósofo,
propõe uma definição semelhante: “O [cadete
x] demonstrará […] caráter se e somente se seu
padrão de pensamento e ação, especialmente
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em relação a questões que afetem a felicidade de
outros, for resistente a pressões, tentações, dificuldades e às persistentes expectativas de outros”2.
Essa definição revela o caráter de um indivíduo
em decisões e ações em todas as áreas — não
apenas ao evitar mentir, trapacear, roubar ou
tolerar, as quais o código de honra da maioria
das escolas proíbe. Da mesma forma, o modelo
de James Rest, Ph.D., sobre os quatro estágios
da tomada de decisão moral (reconhecimento
moral, discernimento moral, intenção moral e
ação moral) apoia essa perspectiva, com seu foco
em reconhecer que existe uma questão ético-moral
(reconhecimento ou sensibilidade), culminando
em um comportamento. Nessa ótica, nosso caráter
inclui valores, virtudes, estética, ética, moralidade
(consciência), identidade e senso de propósito3.
Essas qualidades moldam nossas decisões e ações
concomitantes. Pela definição de Kupperman,
essas são as qualidades intrínsecas, que geram
resultados observáveis e revelam nosso caráter.
Fundamentalmente, esperamos que um líder
seja digno de confiança. A confiança é conquistada e mantida com a demonstração contínua de
caráter, competência e compromisso. Em outras
palavras, os líderes conquistam a confiança quando
cumprem seu dever bem, da forma correta e pelas
razões certas e quando são perseverantes. Sendo
assim, um profissional das Forças Armadas deve
buscar descobrir a verdade, distinguir o que é
certo e demonstrar o caráter, a competência e o
compromisso de agir de forma condizente (uma
decisão “correta” deve ser ética, eficiente e efetiva).
Claramente, essa ótica engloba muito mais do
que não mentir, trapacear, roubar ou tolerar que
ajam dessa forma. Entretanto, essas ações são o
foco das proibições fundamentais, que constituem
os princípios dos códigos ou conceitos de honra
de todas as academias militares. São também
elementos essenciais de nossa ética profissional
militar, mas não são suficientes. Mesmo quando
obedecemos ao espírito do código de honra — respeito pela verdade (honestidade); busca da justiça
e compaixão; reconhecimento da inviolabilidade
da propriedade; e compromisso de defender a
ética profissional militar —, há muito mais.
Março-Abril 2014 • Military Review