Military Review Edição Brasileira Março-Abril 2014 | Page 39

adestrar para fracassar que não é adestramento voltado para a imitação do combate. Embora nossa estratégia de instrução empregue no seu texto os termos “realismo da instrução”, “replicar”, “adestramento operacional relevante” e “adaptativo”, ela nunca define ou diferencia esse léxico. Sem a profundidade contextual desses vários conceitos, é possível que, em virtude de falhas importantes na nossa concepção de adestramento, não estejamos percebendo a falta de realismo na instrução. Em outras palavras, estamos nos adestrando para fracassar? Este artigo não sugere falha no que diz respeito aos instrutores, táticas e objetivos de adestramento de nível operacional ou estratégico. Ele indica que deve ser levado em consideração um panorama geral, uma grande imagem acima de todas essas considerações3. Nossos Centros de Instrução estão repletos de profissionais dinâmicos e dedicados que talvez se ofendam com a noção de “adestramento para fracassar”. Porém, se nossa abrangente filosofia de instrução for deficiente, até mesmo os melhores esforços serão em vão. Ao contemplar nossa filosofia de adestramento, podemos considerar um nível holístico e ontológico de como o Exército aborda o tema, e como “entendemos o pensamento da Força” relativo à instrução4? Com a finalidade de trazer contexto a esta proposta abstrata, introduzo neste artigo vários conceitos de design, que se valem dos campos filosófico e sociológico pós-moderno e nos ajudam a considerar se nosso Exército está inadvertidamente se adestrando para fracassar, e como efetivamente ele tem se isolado para evitar questionamentos sobre esses institucionalismos5. O “design” e a forma como se relaciona com as aplicações militares apresenta uma gama diversificada de aplicações conceituais e holísticas para lidar com a complexidade, embora cada Força Singular possua sua própria metodologia quando trata de questões institucionais específicas6. A metodologia de design do Exército não inclui qualquer um desses conceitos na doutrina, tampouco nossa estratégia de adestramento faz referência especificamente à teoria de design. Contudo, uma Military Review • Março-Abril 2014 reflexão crítica e abordagens holísticas e sistêmicas talvez mostrem nossas deficiências na condução do adestramento7. Para realizar essa pesquisa, nos valemos dos conceitos de simulação e simulacro do filósofo Jean Baudrillard. Também fazemos referência ao conceito colaborativo de “construção do conhecimento social” dos sociólogos Peter Berger e Thomas Luckman, para demonstrar como o Exército adestra-se potencialmente em uma abordagem conflitante com o que esperamos que seja atingido pelo adestramento8. Estamos gastando nossas energias, recursos e tempo em formas de treinamento que são prejudicais às nossas metas abrangentes porque instruímos de maneira errada? Ao recorrer à trama do filme de ficção científica citado no início, devemos engolir o comprimido vermelho e enfrentar as verdades desagradáveis, ou engolir o comprimido azul e continuar a curtir as falsas realidades que criamos no adestramento da Força voltado para a conquista dos objetivos nacionais9? Os escritores de Matrix foram fortemente influenciados pelo trabalho de Baudrillard sobre simulacro, que enfatiza um contraste nítido entre “realidades” falsas que nós, como sociedade, frequentemente preferimos sobre o doloroso, sombrio e muito mais difícil “mundo real” que tendemos a evitar. Isso prova ser útil e embora o trab