Inominável Nº 3 | Page 8

Somerset, o nosso distrito, é conhecido pela sua actividade artística, e aqui onde moro temos o Brewhouse Arts Center, onde podemos assistir a ópera, ballet, teatro, musicais, stand up comedy... e a biblioteca é mais do que um sítio onde se emprestam livros e dvd’s, é um local que fervilha com actividades, projectos, onde as pessoas mais velhas se vêem envolvidas de forma activa e sem receio das tecnologias (os computadores não são um bicho papão!), numa interactividade saudável com gerações mais novas.

É uma terra de muitos artistas, músicos e escritores. E entre estes, claro, mais algumas personagens excêntricas. Falei-vos, no número 1 da Inominável, sobre a costa jurássica aqui perto, com uma vibração energética fora do normal. Nesse dia almocei em Beer, junto à praia que me maravilhou, num pub chamado Anchor Inn, onde uma amiga minha é assistant manager.

E lá vi o personagem local, que tem direito a mesa reservada todos os dias, e com um quadro seu pintado a óleo exposto na parede: o escritor, pintor, antigo músico da orquestra sinfónica de Londres, Mr. M. Acenou-me de forma simpática, qual personagem saída do Senhor dos Anéis, Gandalf The White da costa inglesa, sem saber que um livro seu, capa em veludo azul e letras douradas, já voara um dia para Portugal com uma dedicatória de autor dirigida a mim, a pedido da minha amiga. Longo cabelo branco, longa barba branca, homem das letras amante da sua terra, com alguns estranhos hábitos, um deles pagar sempre, mas sempre!, a conta com uma nota de cinco libras. Um idoso intrigante, que já inspirou investigações dos habitantes locais sobre a sua vida privada.

Vive na casa herdada pela mãe, da qual retirou todas as janelas (o que me dá calafrios quando penso no frio que por aqui faz, especialmente junto ao mar). Os ramos das árvores cresceram e invadiram a casa, o que penso levar a um novo conceito de acampamento moderno: a natureza a vir até nós! Não se sabe se ele é rico a viver de rendimentos, ou se só possui a casa e as suas excentricidades. Mas tem certamente cuidado com a sua saúde, pois quando tem de subir um caminho íngreme, fá-lo de costas, alegando que o faz por ser o melhor para a coluna. Gostava de ver a cara de alguns condutores ao cruzarem-se com ele! Se bem que, numa terra que até tem clubes do sobrenatural, que eu saiba pelo menos desde os anos setenta, e com imensos testemunhos de encontros com o além, talvez esta até não seja uma visão tão bizarra assim...!

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