Inominável Nº 3 | Page 7

dança e deixando-me literalmente surpresa! Mas também podemos ver, em bares com música ao vivo, o mais puro rock dançado por outro tipo de jovens, e também por gente mais madura na idade, mas de cabelos coloridos, calças rotas ou saias ultra-curtas... há oferta para todos os tipos de gostos, não há limite de idade para nada, o que se torna bastante refrescante e nos abre os horizontes.

Claro que no dia dos namorados não houve muita escolha ao ouvir rádio no horário de trabalho e levámos, eu e os meus colegas provenientes de vários países, uma injecção da banda sonora do cupido. A língua que nos une pode ser apenas oinglês, mas a dor sentida foi universal e comum a todos: existe um limite para se ouvir em modo non-stop as divas dos anos 80, 90 and so on (Adele bye bye for now, please...), por muito romântico que se seja! A cultura inglesa tem destas coisas, o passado musical não morre, o que acho maravilhoso excepto em dias como este.

O que me faz lembrar um jovem que costuma estar numa esquina, não necessariamente sempre a mesma, de fones nos ouvidos, em tronco nu, por vezes apenas com uma gravata ao pescoço, e a cantar canções do rei da pop, Mr. Michael Jackson, a plenos pulmões, sacudindo o longo cabelo encaracolado e exibindo o peito peludo. Ele canta, dança, e está sempre com um sorriso nos lábios, mesmo quando está um frio de rachar, com um ar tão feliz que eu me perguntei, a primeira vez que o vi, se tal felicidade provinha de algum estado mental alternativo, fosse provocado por doença ou drogas. Mas a resposta dele, quando questionado, é que canta e dança porque é feliz, e quer inspirar as pessoas a o serem também. E, de facto, ele nada mais faz a não ser isso: cantar e sorrir. O que nos leva a outro facto: eu acabo sempre com um sorriso nos lábios e, por vezes, a cantarolar mentalmente o Bad...

Outra personagem que também quer inspirar o próximo é o homem/aspirante-a-profeta que espalha a palavra de Deus com um microfone, numa das ruas principais. Não tem um ar tão feliz (acho que para ele Deus é sério e com muito pouco senso de humor), mas também não desarma, faça chuva ou faça sol. Semana si, semana não, lá está ele a picar o cartão celestial, mas infelizmente não percebo bem o que ele diz com tanta paixão, porque o sistema de som não é o melhor. Pelo jeito não basta a fé, tem que se ter boa tecnologia! Bem mais simples e eficaz é o sistema de som da harpa tocada, também numa esquina, por um músico muito simpático que bem podia ser o Buda ocidental, tal não é a vibração zen que emite. Até passamos mais devagar na rua em que ele toca, como se de um spa musical se tratasse...

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Nº 3 - Abril, 2016