Inominável Nº 3 | Page 17

Há quatro anos, um jovem teve a curiosidade de aprender a programar. Esse jovem, totó, achou que a melhor maneira de o fazer seria programando um dos seus jogos queridos. Qual? Harvest Moon. E começou a programar e a desenhar e a projectar, e agora lançou o sucessor espiritual de Harvest Moon, que se chama Stardew Valley. Vou repetir. Um ÚNICO gajo gastou milhares de horas a programar de novo um jogo que gostava, para computador. UM.

Tudo bem, há muitos jogos que são feitos por um único gajo. Mas há jogos, e há Jogos, com J grande.

Já tinha o olho em Stardew Valley. Ouvi falar dele há uns tempos, e fiquei interessado porque eu, como muitos, sempre desejei a experiência Harvest Moon no meu computador. Quando saiu há umas semanas, fiquei tão irresistivelmente atraído que não consegui não comprar o jogo a preço inteiro (espero quase sempre por promoções, normalmente).

"Pára lá de deambular, desembucha lá o que raio é esse Stárdiu Véli!"

Diz-se Stardew Valley, já agora. Mas sim, vou já falar mais pormenorizadamente, aguentem lá mais uma linha.

Eis a premissa: o vosso avô, ao morrer, deixa-vos a quinta dele numa aldeia no cú de Judas. Muitos anos depois, esmagados pela opressão da rotina urbana, decidimos ir pegar na nossa herança e viver do campo. Apanhamos o autocarro e recebem-nos na nossa quinta. Boa sorte e desenrasquem-se.

E começa o jogo. Pegamos no machado e na picareta, limpamos algum terreno para cultivo, pegamos na enxada, desenhamos uns regos, plantamos umas parcas sementes, damos uma bela chuva artificial com o nosso regador e olhamos orgulhosos e algo impacientemente para o nosso trabalho, sabendo que só daí a uns dias é que nascerá alguma coisa. Felizmente o tempo passa incrivelmente depressa no jogo, e daí a nada lá temos uns nabos ou seja o que for a brotar da terra. Colhemo-los e colocamo-los a vender e aparecem-nos magicamente umas moedas, que gastaremos imediatamente em comprar novas sementes para repetir o processo, ad infinitum.

No entanto, o processo de produzir e vender produtos agrícolas nunca se torna monótono (ou pelo menos tal ainda não me aconteceu), pois o jogo dá-nos tantas coisas para produzir e fazer: existem imensas culturas a cultivar por estação do ano, campos para limpar para se preparar para cultivo, cercas para se contruir, árvores para cortar para lenha, animais para alimentar e criar e ordenhar e tosquiar e fazer festinhas, minas perigosas para explorar pelos seus minérios e pedras preciosas. Existe mel para recolher dos ninhos de abelhas, álcool para fermentar das uvas cultivadas, queijo e maionese e tecido após a transformação dos produtos animais respectivos, geleia das frutas do pomar que tivermos plantado. Damos por nós a ter que gerir o nosso tempo e a planear o que vamos fazer em cada dia, pois o agricultor tem sempre de lutar contra o tempo. Um dia as batatas estarão prontas para serem colhidas, mas há que tratar dos animais e regar o resto da horta. Entretanto tem-se de ir à povoação buscar algumas coisas à loja. De repente já são quatro da tarde e ainda é preciso pôr fertilizante na terra e plantar (semear?) mais batatas. Para dificultar a coisa, o nosso boneco já está a ficar cansado e quer ir dormir ou comer. Então temos de ir cozinhar alguma coisa, provavelmente com os ovos que as galinhas puseram naquela manhã.

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Nº 3 - Abril, 2016