Inominável Nº 2 | Page 60

O espaço

AZUL

entre as nuvens

A vulgaridade ocasionalmente toma conta das nossas vidas.

É por isso que te digo, que me apaixonei no segundo em que te vi. Todos na festa, rindo, celebrando, havias escolhido a solidão e recato da varanda. Os olhos azuis, o cabelo louro, as pernas elegantemente cruzadas deixavam antever um mundo de promessas. A postura, displicente e ao mesmo tempo elegante fizeram o resto. Uma deusa em forma de gente. Quis saber quem eras, o que fazias. Conversa inteligente, bem-humorada, irónica. E eu a sentir-me nas nuvens. Por ti comecei a escrever; disseste-me que era capaz. Durante estes seis longos anos, admirei-te a espaços e sempre mantendo uma vala de sensatez entre nós. Afinal, não passo de mais um homem casado, pai de filhos, com responsabilidades familiares.

Quando, após esta longa agonia te confessei o meu amor, não quiseste saber. Talvez seja demasiado velho, demasiado casado, demasiado estúpido, mas amo-te. Um sinal teu e largaria tudo. Quando me ignoraste, voltei a ser um adolescente com um coração esfrangalhado. Andei perdido, não quis saber do mundo, bebi um bocado mais que a conta, chorei em ombros amigos.

Compreendo-te, aceito que me não queiras seja por que razão for. Não podemos ser amados sempre, não se deve ambicionar ocupar lugar num coração já cativo. Se um dia me quiseres, estarei cá. Sempre. Por ti e para ti.

Jonathan

Um sinal

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