Inominável Nº 2 | Page 19

s primeiras letras, as leituras ouvidas, foi de minha mãe que as soube, às tardes e pelas noites, em contos que ela me lia ou inventava.

Maria de Fátima Marques Correia Santos, nasceu em Lagos, Portugal, em 1948

Mantem os blogues tristeabsurda e repensando

Colabora no blog e na revista electrónica Samizdat

Integra um grupo que realiza, em Lagos e arredores, tertúlias de literatura dita

Em 2009 publicou o Papoilas de Janeiro, um livro de textos em prosa

Com poesia esparsa em vários livros em co-autoria, integra os Volumes II (2007) e VII(2012) das antologias ditas Cinco Poetas de Lagos

Em 2012 um conto seu foi seleccionado pelo júri dos novos talentos FNAC literatura e está publicado por essa editora

Nos intervalos da escrita gosta de desenhar e publica alguns dos resultados dessa sua actividade no blog intimarte

Quando me fiz de idade, frequentei a escola que, ao tempo, era a soma dos salpicos que as salas de aula faziam pela cidade. Calhou-me uma sala enorme por cima de uma adega. Tinha para recreio uma varanda e, do outro lado duma rua estreita, fazia-se pão e cheirava a estevas e a lume.

Num dia, o meu pai levou-nos para África.

Fomos num navio e foi por lá que fiz o exame da quarta, depois que subi a serra de Chelas num lento e inesquecível comboio. Por lá me cresci de chuvas e rios e trovoadas. E cheiros. Odores ainda mais intensos que o cheiro inolvidável que tinha a minha mala de ir à escola.

E um dia, como fui, voltei.

Foram-me então tempos de luta. Tempos de mordaça, em que pedagogia se conjugava com descalço nos pés dos meninos que ensinava, até que chegou aquele Abril e o dealbar da sua madrugada.

E foi em liberdade que criei os meus filhos.

Disso, e do mais que sou e tenho, agradeceria aos deuses se neles acreditasse.

De vez em quando, escrevo. Escrevo sempre. Ficaram-me em papel um livro de contos e um romance e outros contos e poemas dispersos.

De vez em quando, faço um desenhito apenas para consolo do tanto que gosto.

De minha biografia não sei mais do que isto. Ou não sei dizê-lo. Ou nem mais biografia eu tenho para além de que nasci em Lagos num Janeiro de quarenta e oito e sou do nome que me deram e aqui lavro.

Maria de Fátima Santos

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Maria de Fátima Marques Correia Santos

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Nº 2 - Fevereiro, 2016