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Nº 7 - Abril 2017

Então, no convívio diário, temos que ter a sensibilidade de detectar e respeitar estas diferenças. Assim o fazemos e criamos laços de amizade, o que ajuda a combater alguma solidão, muita dela provocada pela ausência das pessoas que deixámos para trás, aquelas que diziam “vais-te esquecer de nós” mas que acabaram elas mesmo por se tornarem ausentes, apesar dos esforços feitos para os laços não se quebrarem. E, quando se dá por isso, somos agraciados no nosso aniversário, ou época festiva, por alguma mensagem no Facebook, não necessariamente em privado, mas num post semelhante a tantos outros, e descobrimos que o nosso telemóvel ou tem defeito, ou tem utilidade num só sentido: o de enviar mensagens de texto e de efectuar chamadas. O retorno é quase nulo, pois reza a lenda urbana que os emigrantes ficam incontactáveis. Nem telefonemas ou um postal. A curiosidade pelo nosso novo estilo de vida também é quase inexistente pela parte de pessoas que disseram, antes da nossa vinda, “não te tornes estranha”… Suponho que é natural, e talvez por isso quando fui de férias a Portugal tive a sensação de não saber bem onde era a minha casa, sentimento partilhado por uma grande amiga minha, já experiente nestas andanças de emigração, vivendo agora bem longe, na África do Sul, mas fazendo-se sempre presente na minha vida, não esperando por uma mensagem de Inglaterra para saber como estou ou como me sinto. Tendo sido tudo isto algo que me desiludiu um pouco, fez-me também pensar mais em mim, aqui cresci como pessoa e os meus horizontes e forma de pensar expandiram-se, e isto sem dúvida é um dos pontos positivos desta minha experiência de vida fora da minha zona de conforto, que é de certa forma equilibrada entre os aspectos negativos e positivos.

Naturalmente foco-me nas coisas boas que tenho, nos sítios que conheço, e nas pessoas fantásticas com quem me cruzei e com quem criei alguns laços. Mas a Saudade…ah, essa palavra tão portuguesa! Bate à porta de vez em quando, e aí percebemos que podemos sair do nosso país, mas não podemos tirá-lo de nós.

See ya soon!

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