Inominável Ano 2 Inominável Nº6 | Page 63

Nº 6 - Fevereiro 2017

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Sora guardou a espada no cinto, espetou a lança na neve e estendeu as duas mãos fechadas na direcção de Ignis, incitando-a a optar. A rapariga olhou para a sua guardiã e em vez de indicar com um dedo a mão que escolhia, fez com que as suas próprias mãos irrompessem em chamas, pousando-as sobre as de Sora, que arquejou, sorvendo o ar frio da noite. Ignis riu quando Sora abriu a mão esquerda, agora suja com o chocolate que derretera. Depois, fechou as mãos flamejantes e estas voltaram à sua cor normal, pálida.

Todas as noites havia dois responsáveis a guardar a entrada de Aperus. Os habitantes da vila revezavam-se; novos ou velhos, possuía cada um o que era necessário para proteger aquele pedaço de terra no topo do mundo. Para começar, tinham fogo que lhes saía das mãos com facilidade, que os aquecia e iluminava. Depois, como protecção e, quando necessário, como arma, tinham as lanças e as espadas ou punhais, os paus ou os arcos, de acordo com o que mais lhes aprouvesse. Alguns – como Sora e Escarlate tinham feito – partilhavam armas, por não terem preferência. Ignis elegia o punhal: era perita a manejá-lo contra qualquer inimigo que se aproximasse o suficiente para que ela o apunhalasse, e a atirá-lo de forma certeira para o mesmo efeito a quem não se atrevesse a chegar perto.

O inimigo só sabia que era o inimigo quando já era tarde demais para ser outra coisa qualquer.

A princípio, escutando em silêncio os distintos barulhos da noite, não notaram um leve ruído de passos a subir a montanha. Foi já quando um rosto – onde só se distinguia practicamente o branco dos olhos no emaranhado de trapos sujos que parecia cobri-lo dos pés à cabeça – assomou no topo da montanha que Sora se levantou, mas Ignis chegou lá primeiro: a parte romba do punhal, o cabo negro robusto de madeira esculpida, acertou em cheio no peito do desconhecido. Por momentos ela conseguiu ler nos olhos dele surpresa e dor; depois, ele levou a mão ao peito e caiu inerte com um baque surdo no chão alvo.