Entre nós, o medo
homens. Rogou-lhe clemência e misericórdia. Que Deus
tivesse compaixão dela.
Desde manhã que o ambiente no jornal estava um
pouco tenso, as notícias do dia anterior davam conta de uma
série de ataques relâmpago contra alguns jornalistas, na rua,
à porta de suas casas, à entrada da escola dos filhos. Ao todo
haviam morrido quatro pessoas, assassinadas com armas de
fogo. O País estava em choque. E eles, os jornalistas, que
naquele dia decidiram, apesar do terror instalado ir
trabalhar, sabiam que não podiam calar-se, que não podiam
vergar-se. Se o fizessem estariam a compactuar com o medo.
António chegou à redação antes das nove da manhã e
começou logo a escrever a sua crónica semanal. Tinha a
cabeça a mil. Não conseguia concentrar-se, as imagens que
vira na televisão sobre os seus colegas assassinados não lhe
saiam da cabeça. Na noite anterior vomitara copiosamente,
naus VF