João neves
Então, estava lá a minha carteira.
Deixe-me perguntar ali ao colega, espere lá, ó Fonseca,
Fonseca, chega aqui, viste o casaco do senhor, como é que
era o casaco, amigo?
Era o casaco do fato, este que tenho vestido.
Não, não vi nada, nem vi ninguém chegar-se ali perto, estou
a tratar da quatro e da cinco, não vi nada.
Pois, oh amigo, desculpe lá, mas não vimos nada, tem a
certeza que trouxe o casaco?
Sim, vinha com ele vestido, tinha lá a carteira e um envelope.
O envelope.
Amigo, o melhor que posso fazer é fiar-lhe a bica.
Isto é grave.
Está a ouvir amigo?
Isto é grave… Sim, agradeço-lhe… A minha mulher trabalha
aqui perto, quinze minutos e já lhe trago os vinte cinco
escudos, desculpe lá isto.
Deixe lá amigo, boa sorte lá com isso.
Saí do café e o sol pousou-me na cabeça como um
bando de abutres, as pessoas passam apressadas, desviando-se incomodamente deste corpo que jaz verticalmente, de
olhar fixo no infinito, neste passeio movimentado. Um ligeiro
encontrão faz-me retomar o passo, o caminho até à porta do
gabinete de arquitectura onde ela trabalha são poucos
minutos, o acelerar do meu coração pouco me deixa pensar,
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