Detectives Selvagens 2- Medo | Page 78

João neves tinha reparado que existia, a cafeína talvez me ajude a aclarar as ideias, desaperto a gravata e tiro o casaco antes de me sentar na primeira mesa junto à porta, acho que ainda não tinha reparado em como está quente o dia, demasiado quente para Janeiro. Peço o café e fico a observar a mesa vazia à minha frente: vou ensaiando o discurso para logo à noite, depois das pequenas se deitarem, antes vou ter de fingir durante o jantar, Sim, está tudo bem, e o teu dia, como foi? O normal, as chatices do costume, o Antunes continua com as merdas dele, desculpa, sei que não gostas que diga estas coisas mas as coisas são o que são. Ela vai encolher os ombros e vamos continuar a jantar. Depois sim, quando elas se deitarem, levo-a para a sala, penso que vou beijá-la primeiro, talvez ela estranhe logo que algo se passa, eu também tenho estranhado certos comportamentos dela mas, mea culpa, pouco tenho ligado porque tenho mais com que me preocupar, bem, onde é que eu ia, ah, levo-a para a sala e vou dizer-lhe o que aconteceu, vou impedi-la de responder, deito tudo cá para fora, o pior que pode acontecer é ela pegar nas miúdas e ir para casa da mãe, aposto que vai dizer que já sabia que isto ia acontecer, aliás, aposto que será uma das reacções normais do resto das pessoas, a mãe dirá eu bem te avisei, tão cliché quanto verdadeiro. O café chega acompanhado de um copo de água, 78