Da perda
O
meu tio Américo morreu era eu ainda
menor de idade. Lembro-me demasiado bem
desse momento. Acompanha-me até hoje.
O tio Américo era irmão da minha avó, a única
que conheci, mãe da minha mãe. Nasceram ambos numa
pequena vila no alto Alentejo, e à antiga. Paridos em casa.
As suas infâncias foram iguais a tantas outras. No
interior de Portugal, sob ditadura, e com as condições sociais
e económicas da altura. Tornaram-se jovens adultos com
fracas perspectivas futuras, o que os convidou à solução mais
recorrente para o povo português. Emigraram.
Primeiro, o Brasil. Acumulando experiências, umas
mais bem sucedidas que outras, adoptaram vários empregos
menores,
característicos
do
espírito
desenrascado
de
emigrante, até se fixarem naquele que melhores recordações
lhes trouxeram. Trabalhavam numa gigante plantação de
café, no Paraná, a sul, perto da fronteira com o Paraguai.
Pelas histórias que fui ouvindo na infância, e pelo brilho nos
olhos com que as contavam, tinham vivido no paraíso.
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