Detectives Selvagens 2- Medo | Page 69

Da perda O meu tio Américo morreu era eu ainda menor de idade. Lembro-me demasiado bem desse momento. Acompanha-me até hoje. O tio Américo era irmão da minha avó, a única que conheci, mãe da minha mãe. Nasceram ambos numa pequena vila no alto Alentejo, e à antiga. Paridos em casa. As suas infâncias foram iguais a tantas outras. No interior de Portugal, sob ditadura, e com as condições sociais e económicas da altura. Tornaram-se jovens adultos com fracas perspectivas futuras, o que os convidou à solução mais recorrente para o povo português. Emigraram. Primeiro, o Brasil. Acumulando experiências, umas mais bem sucedidas que outras, adoptaram vários empregos menores, característicos do espírito desenrascado de emigrante, até se fixarem naquele que melhores recordações lhes trouxeram. Trabalhavam numa gigante plantação de café, no Paraná, a sul, perto da fronteira com o Paraguai. Pelas histórias que fui ouvindo na infância, e pelo brilho nos olhos com que as contavam, tinham vivido no paraíso. 69