Detectives Selvagens 2- Medo | Page 65

Depois do que aconteceu blá blá blá, não me apeteceu ser repreendido ao telefone por uma psicóloga que mal conheço. Por outro lado acho que estou arrependido de não ter arriscado. Entretanto lembreime que o comentário da psicóloga pode ter sido um teste para avaliar o meu grau de preocupação com a minha mulher. Se foi mesmo isso, falhei no teste. Falhei com receio de parecer demasiado preocupado e ansioso, falhei com medo de dar a entender que acho que algo não está bem. É por isso que detesto psicólogos, tudo o que digo é uma armadilha, sou preso por ter cão e preso por não ter, ninguém sai ileso. Quando cheguei a casa insisti com a minha mulher para que voltasse às consultas e para que levasse com ela o miúdo. Não estava à espera daquela reacção. Ela disse que não com a cabeça e começou a chorar em silêncio, só lágrimas a escorrer-lhe pela cara. Não lhe devia ter perguntado porque estava a chorar. É uma grande estupidez perguntar a uma mulher porque está a chorar. Disse-me que não quer que o miúdo saia de casa. Disse-o como se fosse a coisa mais perigosa do mundo, a voz vacilante, o lábio a tremer, o pânico a saltar-lhe dos olhos. Não me parece razão suficiente para a deixar a chorar, mas lá está, nenhuma resposta à pergunta “porque estás a chorar” parece fazer sentido naquele contexto. Sorri, fiz-lhe uma festa na cara para tentar 65