Depois do que aconteceu
blá blá blá, não me apeteceu ser repreendido ao telefone por
uma psicóloga que mal conheço. Por outro lado acho que
estou arrependido de não ter arriscado. Entretanto lembreime que o comentário da psicóloga pode ter sido um teste
para avaliar o meu grau de preocupação com a minha
mulher. Se foi mesmo isso, falhei no teste. Falhei com receio
de parecer demasiado preocupado e ansioso, falhei com
medo de dar a entender que acho que algo não está bem. É
por isso que detesto psicólogos, tudo o que digo é uma
armadilha, sou preso por ter cão e preso por não ter,
ninguém sai ileso.
Quando cheguei a casa insisti com a minha mulher para
que voltasse às consultas e para que levasse com ela o miúdo.
Não estava à espera daquela reacção. Ela disse que não com
a cabeça e começou a chorar em silêncio, só lágrimas a
escorrer-lhe pela cara. Não lhe devia ter perguntado porque
estava a chorar. É uma grande estupidez perguntar a uma
mulher porque está a chorar. Disse-me que não quer que o
miúdo saia de casa. Disse-o como se fosse a coisa mais
perigosa do mundo, a voz vacilante, o lábio a tremer, o
pânico a saltar-lhe dos olhos. Não me parece razão suficiente
para a deixar a chorar, mas lá está, nenhuma resposta à
pergunta “porque estás a chorar” parece fazer sentido
naquele contexto. Sorri, fiz-lhe uma festa na cara para tentar
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