Prolixa e nero
moeda e uma vacinação para a exultação. Orestes confessoulhe que entregara o seu pouco dinheiro à Prolixa.
A Prolixa estranhou que o homem que poucas horas
antes partira enfiado numa saca, voltasse ao seu quarto
fazendo-se acompanhar pelo homem que o enfiara na saca.
Nero beijou-a e despiu-a e sentou-a na cama, ela fazia como
ele queria, aceitava que lhe metesse a fronha pela cabeça e
atasse os braços. Perguntava, enfronhada, se o amante, sócio
e patrão tinha em mente alguma situação exótica, daquelas
de carapuça, amor louco e lambuzadela. «Preta», afirmou
Nero, «és feia como um rinoceronte mas tens um corpão de
brasa e eu amo-te.» Nero abriu uma gaveta, tirou o dinheiro
que lá estava e saiu do quarto, tendo regressado cerca de um
quarto de hora depois, visivelmente alterado pelo efeito da
droga. Pegou numa seringa, injectou a Prolixa e injectou-se.
Orestes, mirone, assistia a tudo. Era o momento de partir e
não voltar. Havia uma lição. Aquele não era o seu caminho.
Por mais que se sentisse tentado a procurar a companhia de
prostitutas, não cederia, lembrar-se-ia da Prolixa, de Nero,
da heroína, da espuma a sair da boca de Nero, do edifício
com paredes de tijolo por rebocar, dos adolescentes
cravejados de brincos, pulseiras e haxixe, das ciganas, não
regressaria ali e a lado nenhum onde não estivesse Sofia, e
correu, correu, correu e correu.
55