Detectives Selvagens 2- Medo | Page 48

paulo rodrigues ferreira pelo vício, cavalo, branca pura limpa dentinhos, ciganas vestidas de preto surro, de mão estendida, menino quer ler a sina? Ai, que nuvem negra atrás de si, deixe-me clarear-lhe a sina. Um agarrado à heroína publicitava, com um panfleto de fabrico artesanal (desenhado a lápis num pedaço de cartão), uma associação bairrista com fins não-lucrativos chamada «Snifa & Snifa». O quarto da prostituta apresentava uma decoração minimalista, só não digna de um povo nórdico por juntar às paredes brancas luzes vermelhas, quadros impressionistas pintados pela própria, velas às dezenas e incensos. Longe de simpática, a prostituta recebeu-o com um aperto de mão, empurrou-o para a zona de «desinfestação», também conhecida por casa de banho por indivíduos menos familiarizados com o léxico da messalina. Retribuindo a simpatia, Orestes agachou-se no bidé e afirmou estar pronto para ser desinfestado por catedráticos dedos. A vergonha que tantas vezes o bloqueava extinguia-se quando os seus interlocutores eram prostitutas. As sessões com a doutora Helena no bordel Paraíso Perdido tinham-lhe sido de imenso proveito, sem elas não teria a mesma desenvoltura e não se embostelaria tão graciosamente no bidé da meretriz. Helena não o preparara porém para o resto: para viver sem encolhimento e não mirrar (como se explosão, bunker, bomba, quem me acode) caso alguém que não uma senhora 48