Detectives Selvagens 2- Medo | Page 47

Prolixa e nero «M ulher avantajada, experienciando os últimos prazeres da juventude, disponibiliza-se para momentos únicos.» Ainda não acabara de ler o anúncio no jornal e já Orestes se apressava a contactar a prostituta. Se bem que se viesse a arrepender, não só por ter gastado dinheiro que lhe fazia falta, por exemplo para comer, com um camafeu excessivamente feio para merecer sequer ser tocado com a ponta da unha, mas também por ter atraiçoado uma vez mais a sagrada instituição que era a sua relação com Sofia. Uma prostituta afigurava-se-lhe na altura como a cura ideal para os desgosto nascidos do desprezo a que sem explicação aparente a vida, o destino, o fado, o que se quisesse, o votara. A prostituta do anúncio morava num bairro degradado, pejado de drogados, cães sarnentos, gordas grotescas de sapato de salto exageradamente alto, meias, ligas, tatuagens de golfinhos, âncoras, sóis, corações atravessados por setas estampadas em ombros, braços, pernas, velhos alienados ou se não alienado histéricos, bêbedos, cirroses andantes, miúdos fumadores/passadores de haxixe camuflados pelo gangue, alcateia de bonés, correntes, calças largas, fios, pulseiras, anéis de ouro, faces sugadas 47