Detectives Selvagens 2- Medo | Page 12

Tiago côrte-real parasitário que todos estes anos me cegou. E se o intruso sou eu? Oh raios, isso não traria nada de bom. Para lhe dizer a verdade, no fundo sempre achei que este corpo me ficava largo, enorme em todos os aspectos. Por isso, ontem recorri a uma faca de cozinha para chegar ao fundo disto. Estava convicto que algo iria aparecer, mas não sei bem o quê. Por enquanto só vi tecido mole, músculo e osso. Cortei primeiro os nervos para a dor não chegar ao cérebro. Não funcionou. Não sei se alguma vez tentou cortar um osso pelo meio, sem recorrer a atalhos. Duro como pedra. Imagino a frustração e a claustrofobia do Outro, a esbracejar sem conseguir sair. Seria mais do que suficiente para me fazer e nlouquecer. Mas acho que tenho um martelo algures.Trouxe–o para casa quando fechei as janelas. Mais uma vez, o proletariado sai em ajuda da intelligentsia. Dia 4 Menti–lhe e essa é a verdade. O meu propósito não tinha nada de altruísta nem de libertador, mas sim de destrutivo. Aquele clamor constante estava a enlouquecer–me e só a sua aniquilação seria suficiente. Encontrei o martelo e dei–lhe o melhor uso que pude. Escrevo–lhe unicamente com um dedo da mão esquerda, por isso não me condene a lentidão, mas esta que será possivelmente a última vez que o faço. Escrever–lhe, quero dizer. 12