Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 98

Marco Martins perto de si estava algo mais que não deslumbrou de imediato, tratava-se de algo idêntico a um sorteio de uma tômbola gigante; “Roda, menina, essa coisa circular e dir-te-ei o que a loucura assim mo diz”. Rodou energicamente e parou, tirou lá de dentro uma etiqueta dourada e leu bem alto: “as dores enunciadas pelo coração”, então colocou a etiqueta a dormitar no seu bolso e voltou a rodar, desta vez mais enfraquecida, parou e leu bem alto, entoando a sua voz fina: “as inúmeras semanas em que deixaste de sorrir”, e colocou a indicação embrulhada no seu outro bolso. E voltou a rodar, cada vez com menos energia, a tômbola mágica quase não se moveu, retirou a etiqueta e leu baixinho “a importância que dás à conjugação do teu passado.”. Então olhou-a atentamente a colocar a etiqueta enrolada na primeira, juntou-as e colocou-as no mesmo bolso. Então questionou-a: “Porque quero eu ver essa roda a girar se só me saem etiquetas com pensamentos sem sentido?” Ela, espantada pela questão repentina, respondeu timidamente: “Os pensamentos são teus, apenas teus. Liberta-te…”, perplexo encolheu os ombros resignado, queimando as réstias da sua loucura, e questionou-a uma vez mais: “Porque enrolaste a primeira etiqueta à última?”. Calmamente sorriu, e em poucas palavras, as que lhe foram permitidas, disse: “É a razão de tudo, no silêncio…” 98