Marco Martins
perto de si estava algo mais que não deslumbrou de imediato,
tratava-se de algo idêntico a um sorteio de uma tômbola
gigante; “Roda, menina, essa coisa circular e dir-te-ei o que a
loucura assim mo diz”. Rodou energicamente e parou, tirou
lá de dentro uma etiqueta dourada e leu bem alto: “as dores
enunciadas pelo coração”, então colocou a etiqueta a
dormitar no seu bolso e voltou a rodar, desta vez mais
enfraquecida, parou e leu bem alto, entoando a sua voz fina:
“as inúmeras semanas em que deixaste de sorrir”, e colocou
a indicação embrulhada no seu outro bolso. E voltou a
rodar, cada vez com menos energia, a tômbola mágica quase
não se moveu, retirou a etiqueta e leu baixinho “a
importância que dás à conjugação do teu passado.”. Então
olhou-a atentamente a colocar a etiqueta enrolada na
primeira, juntou-as e colocou-as no mesmo bolso. Então
questionou-a: “Porque quero eu ver essa roda a girar se só
me saem etiquetas com pensamentos sem sentido?” Ela,
espantada pela questão repentina, respondeu timidamente:
“Os pensamentos são teus, apenas teus. Liberta-te…”,
perplexo encolheu os ombros resignado, queimando as
réstias da sua loucura, e questionou-a uma vez mais: “Porque
enrolaste a primeira etiqueta à última?”. Calmamente sorriu,
e em poucas palavras, as que lhe foram permitidas, disse: “É
a razão de tudo, no silêncio…”
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