Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 90

TIAGO CORTE-REAL dentro vinham cânticos numa língua que não a dele, que ele não entendia, mas que o confortava. Entrou. Depois de uns segundos para se adaptar à mudança de luz, vislumbrou várias silhuetas de mãos dadas entregues a uma espécie de murmúrio tântrico. Uma das silhuetas saiu do grupo e dirigiu–se a ele. Menstap assustou–se e censurou–se pela sua petulância ao ter entrado. Certamente iriam expulsá–lo a pontapé, ou pior, chamar a polícia. Um leve tremor tomou–lhe conta do corpo e da voz quando uma mão estranha encontrou o seu ombro. Esta era a primeira vez que alguém lhe tinha tocado, desde que os serviços médicos o tinham examinado aquando da sua detenção à entrada de Espanha. “Não fiques aí Irmão. Entra. Esta casa é de Deus. É de nós todos”. Apesar do nível rudimentar do seu português, Menstap percebeu na voz daquele homem alto e de figura distinta um tom melódico e reconfortante que o fazia pensar no velho curandeiro da sua aldeia. – “Tu crês em Deus, Irmão”, perguntou o homem. Menstap pensou durante breves segundos, meteu a mão ao bolso e tirou a moeda de bronze. Não sabia ao certo no que acreditava, mas talvez fosse altura de acreditar em algo. A Fé veio para acabar com o medo, e nunca nada lhe tinha amedrontado tanto como a realidade que acaba por ser este sonho da Terra Prometida. Voltou a colocar a moeda no 90