Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 65

O charco assustada, observei com mais atenção o saco de plástico. Imaginei pequenos bichinhos amarelados na base da carapaça da Relíquia enquanto pegava nela, como costumava fazer, e sentia a sua pele escorregadia, quente e peganhenta como a minha testa ao acordar com dores nos ouvidos e ver um líquido espesso e esbranquiçado espalhado na almofada. A imagem das salmonelas minúsculas a subirem-me pelos braços e a entrarem dentro de mim arrepiou-me. Solucei. A minha mãe ajoelhou-se e abraçou-me. Assegurou-me que ficaria tudo bem e que o melhor a fazer era deixar a Relíquia no charco das rãs onde eu costumava ir com a avó. Eu ficava em casa da minha avó todos os dias enquanto a minha mãe ia trabalhar. Costumávamos ir até ao charco depois do almoço, sempre bife com arroz branco ou pescada cozida com batatas. Impaciente, perseguia as fitas do avental da minha avó enquanto ela arrumava a cozinha. No carro tinha perguntado à minha mãe porque motivo devia atirar a Relíquia para o charco, não a podíamos levar ao veterinário como se faz aos cães e aos gatos, ver se ela estava doente e curá-la? A minha mãe disse que não. O melhor era mesmo deitá-la no charco, até porque as tartarugas vivem na água. A Relíquia ficaria a viver na água como as outras tartarugas que eu via na televisão, na companhia das pequenas rãs saltitantes em vez de passar o dia todo a olhar para a 65