Inês COSTA
quarto, estava nevoeiro. Mas a minha mãe suspirou e tirou
do roupeiro o vestido que eu queria, dizendo apenas que
assim eu ia ter que levar mais casacos para me proteger do
frio. Fiquei tão contente que nem me queixei quando
minutos depois a minha mãe me levou até à casa–de-banho
para me pentear, arrastando uma escova pelos meus caracóis
enquanto rangia os dentes e resmungava tão baixinho que o
barulho se confundia com os uivos do vento lá fora – e o que
aquilo doía!
Cheguei à cozinha toda entusiasmada para mostrar o
meu vestido à Relíquia, mas em cima da máquina de lavar
roupa vi apenas o alguidar cor-de-laranja com camisas do
meu pai que ainda não tinham sido passadas a ferro. A
Relíquia e o seu aquário cor-de-rosa estavam dentro de um
saco de plástico com letras vermelhas, daqueles dos
supermercados, em cima da mesa da cozinha. A minha mãe,
encostada à ombreira da porta, aproximou-se de mim,
acocorou-se para me poder olhar melhor e voltou a suspirar,
como no meu quarto. Disse-me então que tinha visto na
televisão que as tartarugas como a Relíquia podiam
transmitir Salmonela. Salmo-quê? Perguntei o que era isso da
Salmonela e a minha mãe contou-me a história de uns
micróbios que se agarravam às tartarugas e que faziam com
que as pessoas ficassem doentes, com febre e diarreia,
algumas tinham mesmo que ir para o hospital. Confusa e
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