Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 64

Inês COSTA quarto, estava nevoeiro. Mas a minha mãe suspirou e tirou do roupeiro o vestido que eu queria, dizendo apenas que assim eu ia ter que levar mais casacos para me proteger do frio. Fiquei tão contente que nem me queixei quando minutos depois a minha mãe me levou até à casa–de-banho para me pentear, arrastando uma escova pelos meus caracóis enquanto rangia os dentes e resmungava tão baixinho que o barulho se confundia com os uivos do vento lá fora – e o que aquilo doía! Cheguei à cozinha toda entusiasmada para mostrar o meu vestido à Relíquia, mas em cima da máquina de lavar roupa vi apenas o alguidar cor-de-laranja com camisas do meu pai que ainda não tinham sido passadas a ferro. A Relíquia e o seu aquário cor-de-rosa estavam dentro de um saco de plástico com letras vermelhas, daqueles dos supermercados, em cima da mesa da cozinha. A minha mãe, encostada à ombreira da porta, aproximou-se de mim, acocorou-se para me poder olhar melhor e voltou a suspirar, como no meu quarto. Disse-me então que tinha visto na televisão que as tartarugas como a Relíquia podiam transmitir Salmonela. Salmo-quê? Perguntei o que era isso da Salmonela e a minha mãe contou-me a história de uns micróbios que se agarravam às tartarugas e que faziam com que as pessoas ficassem doentes, com febre e diarreia, algumas tinham mesmo que ir para o hospital. Confusa e 64