Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 44

Jaime lencastre razões nas mexidas do mister, nos treinos, porque escolhia este ou aquele exercício, como é que os punha a defender. E ele passava isso para dentro de campo, era como se tivéssemos um segundo mister em campo, com o Canina a jogar. Trocavam olhares e gestos no jogo, acho que só os dois percebiam. O miúdo se calhar queria ser treinador, um dia. Não o invejava, ao Hugo. Era preciso muita paciência. Eu lá treinava os guarda-redes, isso dava-me gozo. Agora treinar uma equipa? Não, nem pensar. Nem pensar… Mas pronto, continuando, a mãe e o tio dele começaram a ir aos jogos, já na segunda época. A mãe não percebia nada de futebol e dificilmente compreendia todo aquele rebuliço à volta do miúdo. Já o tio quase não conseguia acreditar que o desengonçado lá de casa fazia aquilo com a bola nos pés. Não me parecia ser muito próximo do miúdo, este tio. Ele também não falava disso. Nunca lhe conheci o pai. Nunca perguntei, há coisas que um gajo até se sente mal a meter-se, não queria chatear o miúdo, eu sei lá como é que ele reagia a isso, pá. Diziam que o tio dele nem sequer tio era, que era um amigo da mãe que vivia com eles. Inventavam-se coisas, já se sabe como são as pessoas. Eu por mim era deixarem toda a gente em paz e deixarem-me em paz. Era só isso que eu queria e, se dependesse de mim, deixavam também o Emanuel em paz. Era assim que se chamava, Emanuel. Bom, era a nossa época de estreia no campeonato nacional de 44