Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 24

Diogo Serra chávena de chá na mão, ouvia. Finalmente tinha-o posto a falar, aquilo que eu, o seu narrador, mais queria. Antes do espectáculo já ela tinha reparado no seu vizinho. E a sua adorável sensibilidade já se tinha apercebido da cara de fardo que ele usava todos os dias. Depois do bar, e contra aquilo que eu esperava, ele aguardou pacientemente à porta dela, que ela chegasse, para lhe pedir desculpa. Falaram um pouco e combinaram encontrar-se. E daí sucederam-se as sessões no alpendre. Em conversa ou em música. Alguns meses depois já quem ele tinha deixado para trás sabia de tudo, graças à voz da razão que ela conseguia ser. Ela também tinha o seu próprio passado, que ele conseguia fazer desaparecer mesmo sem dar por isso. Antes fosse o contrário. Teria algo que a distraísse daquele sentimento que a ligava a ele, embora soubesse que ainda havia alguém a ocupar aquele espaço. Ela sofria. Ele sentia-o, mas nunca percebeu. Até ela não o suportar mais. Acompanhada da guitarra, cantou para ele, com lágrimas a escorrerem pela cara, em paralelo com a chuva que se fazia ouvir. Como quem confessa tudo. No final, um beijo, o 24