Detectives Selvagens 1 - Setembro 2014 | Page 23

Where the light is - “Claro… vejo-te por aí." - Terminou, e virou as costas. Eu não sabia bem o que havia de fazer, se tentar atingir com uma base para copos o bloco de gelo ao qual me encontrava agarrado, ou segui-la, para perceber o porquê de tanta preocupação com um desconhecido. E foi o que veio a seguir que me deu a resposta que precisava. A estranha sentou-se num banco, bem ao centro do palco. A estranha, de cabelo escuro apanhado, ia actuar naquela noite. A estranha, que apaixonava qualquer um à sua volta, agarrou na guitarra que permanecia ao seu lado. A estranha deixou de o ser aos primeiros acordes. Eu reconheci-os. Ele também. E se havia dúvidas, acabaram quando aquela voz, inesquecível, começou a cantar: - Keep me where the light is... - enquanto olhava para ele. Enquanto o colava àquele banco. IV "...depois da discussão, ela saiu. Se não fosse o acidente e aquilo que as malas levavam dentro do carro, ninguém sabia que eles estavam juntos. Nem eu" - Contava a nossa personagem, naquele alpendre, sentado no chão de pedra fria. Ela, sentada na cadeira de baloiço, encolhida, com a 23