Água De BEBER
quão entusiasmada havia ficado com um artigo sobre Bolaño
que lera recentemente, assentiu e esboçou um sorriso de
felicidade por ter o primeiro livro escolhido, haveria só que
comprá-lo durante essa semana, tomando para isso nota na
sua gasta moleskine negra. Essencial seria também levar
literatura portuguesa, defendeu Henrique. Entre Memória de
Elefante de António Lobo Antunes, para ele o melhor
escritor português da actualidade, e Adoecer de Hélia
Correia, a escolha seria óbvia se quem viajasse para Paris
fosse Henrique e não Teresa (embora Henrique tivesse
apreciado bastante o livro de Hélia Correia). Ainda assim,
Henrique aconselhou-a levar Lobo Antunes, que não se ia
arrepender, não poderia arrepender-se de ler algo tão bom
num sítio tão belo. Após o almoço que durou mais de duas
horas, já haviam, portanto, sido escolhidos dois livros,
ambos por influência de Henrique, pelo que Teresa sentia
que faltava algo dela naquela escolha. Despediram-se no
Largo de Camões, ponto em que se separariam, Henrique iria
pela Rua do Alecrim até ao Cais do Sodré apanhar o
comboio para Cascais, Teresa pela Rua da Horta Seca que
cruzava
com
a
sua
Rua
das
Flores.
Abraçaram-se
demoradamente, Henrique desejou-lhe boa viagem e pediulhe que não se esquecesse de enviar um postal de Paris, mas
que fosse original, pois já tinha bastantes com a Torre Eiffel
como pano de fundo. Teresa riu-se com ele, e prometeu que
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