ÁLVARO REIS
Empunho a minha lâmina
Como Quixote empunha a sua espada.
E acredito… Sim, eu acredito.
Acredito que desfaço o que me faz de velho
E pareço novo.
Mas quando aclaro o espelho,
Com a minha mão molhada,
E me olho nos olhos,
Vejo que o que é velho,
Não é o que está fora de mim,
É o que está dentro de mim.
Resigno-me, encolho os ombros,
E busco as calças e a camisa
Que a filha da minha lavadeira engomou.
Salto cautelosamente para dentro dos meus
Sapatos pretos.
Procuro a minha pasta preta,
Freneticamente.
Como se andasse à procura de mim,
Mas soubesse desde sempre
Que nunca me ia encontrar ali.
Mas procurava…
Procurava porque sei,
Que apesar de não me ver,
Eu estou ali:
No vazio, no vago,
Na falta de uma coisa que realmente é.
Aos pés da cama está a pasta preta –
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