Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 96

ÁLVARO REIS Para absolutamente nada; Como se não precisasse da vida Para absolutamente nada. Vejo o cigarro esfumar-se, Apercebendo-me que a minha vida se esfuma também: Alguém a acendeu, Subtraiu-lhe o fumo E deixou a maldita beata. Deixou-a Sem sequer a amarrotar no cinzeiro, Que é onde todas as beatas devem estar – No cinzeiro. (Tão fora do cosmos que eu estou!) Um daqueles dias que passam – Sem eu ter, realmente, Passado por ele: Hoje, passei por mim. Passei por mim; cruzei-me comigo E nem me falei. Passeava, deambulava pela cidade. Enamorado, feliz: Assim estava eu. Esbocei um esgar de escárnio Quando olhei para mim. Julguei-me feliz… Virei-me costas e continuei a andar, Até me ter perdido de vista. Não me queria ver assim: Feliz, conformado, sábio, Estúpido. 96