O HOMEM QUE UM DIA PAROU
indignou-se e surgiram desde logo colegas de escola de Jorge
e amigos de longa data que reclamavam os mesmos
privilégios de familiares e entidades, pois se ele não estava
morto não podiam tratá-lo como se se tratasse de um
mausoléu. Diziam as más-línguas que esses “amigos” que
agora surgiam em cada esquina mais não se tratavam do que
oportunistas dispostos a tudo para lucrar à conta de Jorge
Bonifácio.
Foram
contratados
advogados,
estatutos
camarários e vazios legais foram lançados para cima de mesa
como se fossem ases de trunfo e, como seria de esperar, não
se chegou a conclusão nenhuma, tirando que as obras foram
embargadas e dos dois lados da barricada choviam acusações
que mais não faziam do que alimentar o impasse. Entretanto,
um dos mais rigorosos Invernos de sempre já se havia
instalado na região e numa praça repleta agora de árvores
despidas e lama de obras inacabadas só uma figura se
mantinha constante, Jorge Bonifácio, com os seus dois sacos
na mão e um casaco verde em tons de ensopado. Maria do
Carmo, com ajuda de uma amiga dedicada, lá conseguiu
erguer um pequeno toldo para evitar que Jorge fosse
continuamente fustigado pelos elementos mas, segundo
constava, através do sistema de piscad [HH