Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 81

O HOMEM QUE UM DIA PAROU indignou-se e surgiram desde logo colegas de escola de Jorge e amigos de longa data que reclamavam os mesmos privilégios de familiares e entidades, pois se ele não estava morto não podiam tratá-lo como se se tratasse de um mausoléu. Diziam as más-línguas que esses “amigos” que agora surgiam em cada esquina mais não se tratavam do que oportunistas dispostos a tudo para lucrar à conta de Jorge Bonifácio. Foram contratados advogados, estatutos camarários e vazios legais foram lançados para cima de mesa como se fossem ases de trunfo e, como seria de esperar, não se chegou a conclusão nenhuma, tirando que as obras foram embargadas e dos dois lados da barricada choviam acusações que mais não faziam do que alimentar o impasse. Entretanto, um dos mais rigorosos Invernos de sempre já se havia instalado na região e numa praça repleta agora de árvores despidas e lama de obras inacabadas só uma figura se mantinha constante, Jorge Bonifácio, com os seus dois sacos na mão e um casaco verde em tons de ensopado. Maria do Carmo, com ajuda de uma amiga dedicada, lá conseguiu erguer um pequeno toldo para evitar que Jorge fosse continuamente fustigado pelos elementos mas, segundo constava, através do sistema de piscad [HH