O HOMEM QUE UM DIA PAROU
contornar autorizações para ver se era possível sacar dali
algum medicamento milagroso.
Ninguém chegou a resultados conclusivos e a Comissão
das Festas de São Julião, não conseguindo tirar Jorge
Bonifácio da praça, foi obrigada a improvisar, incorporandoo no evento. Assim, estreada nas festas de 1987, uma nova
atracção teve lugar – Por apenas alguns trocos qualquer
cidadão tinha duas tentativas para fazer Jorge Bonifácio, a
estátua viva da Praça Simões dos Santos, sorrir. Se
conseguisse, ganhava um jantar para dois na tasca do
Roberto Pescador, que a organização não era parca nos
prémios que atribuía e, mais do que uma tasca, o
estabelecimento de Roberto Pescador era uma experiência
gastronómica
onde
expressões
como
“gourmet”
não
passavam da porta de entrada. Contudo, no meio de
bailaricos, carrinhos de choque e cheiro a sardinha assada,
Jorge Bonifácio não se riu para ninguém, permitindo à
Comissão angariar umas boas dezenas de contos à sua custa.
Os meses passaram e, ainda antes do Inverno, chegaram
os estudantes. Por essa altura, já as opiniões sobre o
fenómeno Jorge Bonifácio se dividiam, para alguns aquilo era
uma promessa, que a Lurdes coitadinha tinha tido uma
infância carregada de maleitas, para outros era coisa do
demo, que ninguém o via a comer nem ir à casa de banho e
continuava igual ao dia em que tinha parado, nem sequer se
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