Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 78

SÉRGIO MAK COSTA festas onde nunca faltavam animação, música e, regularmente, desacatos devidos ao álcool. Ora, com Jorge no meio da praça, alguma coisa tinha que ser feita para o tirar de lá. Perante a sua inacessibilidade ao diálogo, foi contactada a sua família. A Junta prometeu a Maria do Carmo que não iriam causar danos a Jorge, que iam retirá-lo com uma grua do local, transferi-lo para uma carrinha de caixa aberta e, se ela assim o desejasse, podiam até colocá-lo no pequeno quintal que a família Bonifácio tinha nas traseiras. Deste modo, Jorge Bonifácio podia continuar o seu voto de imobilidade, sem perturbar as festas da região. Maria do Carmo concedeu e assim começou o processo de remoção. Vieram gruas, arquitectos, engenheiros, especialistas em mudanças e os tradicionais opinantes populares. Mas, viesse quem viesse, com ferramentas, técnicas e tecnologias para todos os gostos, ninguém conseguia mover Jorge Bonifácio. Era como se este estivesse imbuído de uma força desconhecida que impedisse a movimentação do seu corpo. Ele continuava ali, de olhos abertos e a respirar, sem qualquer sinal de rigidez ou doença mas, por mais tentativas e força que tentassem empregar, não o mexiam um milímetro. Tiraram-se fotos, recolheram-se amostras e aí Maria do Carmo Bonifácio já não foi tida nem achada, pois laboratórios e farmacêuticas logo acharam forma de 78