SÉRGIO MAK COSTA
vermelha, que ia lançado a todo o gás e, de repente, olhou
para cima como se estivesse a ver alguma coisa. Eu também
olhei para cima e, quando voltei a olhar para ele, tinha
parado e estava a olhar para mim, juro que foi o que me
pareceu. Na altura até fiquei meio assustada, fechei a janela e
fui à minha vida mas, umas horas depois, voltei e lá
continuava ele, impávido e sereno. Depois... bem, depois foi
o que se sabe”.
O que se sabe é que nada se sabe ao certo, tirando por
relatos indirectos. Jorge Bonifácio, por volta das onze e meia
da manhã, trazendo dois sacos de compras na mão e
envergando casaco desportivo verde seco, t-shirt branca,
calças de ganga e uns ténis de marca já bastante usados,
resolveu parar a cerca de oito metros da passadeira de peões
que liga a praça Simões dos Santos ao bloco de habitações do
Bairro do Salgado. Homem de aparente boa saúde, Jorge
Bonifácio tinha à altura 37 anos e apresentava-se em forma
física regular, talvez com uns quilinhos a mais, mas nada de
grave. O certo é que ali parou e dali não arredou pé.
Durante algum tempo a sua imobilidade não foi levada
a sério, pensando-se que se trataria de um esgotamento ou
outra qualquer maluqueira. Obviamente as autoridades
foram alertadas pela sua esposa, Maria do Carmo Bonifácio,
e não foi difícil darem com ele. No entanto e apesar de
tecnicamente não estar desaparecido, visto que estava ali no
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