LOURENÇO BRAY
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A gaiola era um pequeno pátio, duas vezes maior do
que a minha cela, com muros ocre, muito altos, tão altos que
não deixavam ver nada a não ser céu enjaulado. O meu
guarda tirou-me as algemas e soltou-me lá para dentro com
um pontapé no cu porque fiquei com medo da claridade do
sol reflectida no chão de pedra branca; aquilo nem parecia
chão sólido e desconfiei que podia ser uma armadilha. Disseme que eu tinha uma hora e fechou o portão de ferro com
um claque metálico. Uma hora para quê? Não me respondeu
e deixou-me, sozinho, na minha gaiola. O pátio era
ligeiramente côncavo de modo a que as gotas de chuva
corressem para um ralo no centro, uma abertura circular
coberta por uma tampa de ferro enferrujado. Examinei a
tampa pois podia-se fugir por canos, já o vira em filmes. Mas
o cano era demasiado estreito para que uma pessoa pudesse
passar por ele e senti a desilusão que assombrava a gaiola
desde que o primeiro de muitos reclusos a sentira antes de
mim. Então olhei para cima, para o céu por trás das grades
da gaiola. Pequenos farrapos de nuvens no azul e o sol,
violento. Muito bonito. Quem me der saber voar, pensei. Em
todo o caso, ali não me serviria de muito por causa das
grades... Porque teriam posto grades por cima do pátio? Os
muros
tinham
cerca
de
quatro
58
metros
de
altura,