MONSANTO – TRÊS FRAGMENTOS
Recolheu a pata, pousou-a na pança e começou a fazer
festinhas à pata supostamente infectada, com a pata
saudável. De vez em quando inspeccionava as garras. Parecia
pensativo e distraído, os bigodes e o nariz tinham pequenos
espasmos inconscientes. Então sobressaltou-se outra vez,
todo ansioso:
─ O Esquilo Generoso deu-te alguma coisa?
─ Deu-me avelãs. Vinte.
─ Não te deu mais nada?
─ Não.
Suspirei profundamente, tentei relaxar os ombros e o
pescoço e depois disse-lhe:
─ Ouve, Guaxi, só quero voltar para casa.
─ Não te preocupes, vamos-te tirar daqui e depois
podes ir ao hospital! E depois podes salvar o planeta! ─
começou de novo aos pequenos saltos, agarrado às grades.
─ Outra vez essa história do salvar o planeta... Não vou
salvar planeta nenhum ─ tentei demovê-lo , sem grande
convicção, mas já tivera aquela discussão dezenas de vezes e
sabia que era como falar com um animal irracional.
─ Vais, vais! Vais salvar o planeta!
─ O planeta? Parece-me muito grande, o planeta, para
uma pessoa o salvar.
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