Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 50

LOURENÇO BRAY de uma cabeça felpuda. Os meus olhos adaptaram-se à claridade. Reconheci o Guaxinim Neurótico. Estava agarrado às grades com as pequenas patas cheias de pêlo cinzento e branco todo hirsuto e enfiava o focinho para conseguir espreitar melhor para dentro da cela. O focinho entre as grades arreganhava-se-lhe um pouco e mostrava os dentes sem querer, dando-lhe a aparência ilusória de um pequeno animal feroz e enervado. Os bigodes desproporcionais, longos arames de nylon quebradiço, vibravam com os esforços de afocinhar pelas grades adentro. Os pequenos e brilhantes olhos negros, camuflados na máscara de ladrão, limitada por orlas de pêlo muito branco que se estendiam até às patas, contemplaram-me de alto a baixo, parecendo finalmente fixar-se no meu nariz e perscrutar-me: ─ O que te aconteceu à cara? ─ perguntou-me muito espantado. ─ Nada de especial. E à tua, o que aconteceu? ─ Estás com os olhos todos negros e o focinho inchado... ─ observou ─ pareces... pareces um guaxinim. Tens de meter gelo. ─ Não tenho gelo. Trouxeste? ─ Não sabia que estavas assim. Não sei onde ia arranjar gelo. Se calhar numa bomba de gasolina. Olha, trouxe-te isto 50