Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 44

PEDRO DIONÍSIO têm sido passados a bolachas e pacotes de leite pequenos que comprou num míni mercado perto do prédio onde mora. Não há dinheiro para comer fora. Inala um pouco mais de fumo e prepara-se para pôr os pés no chão. O chão é de madeira e ele sabe que está frio. A madeira é uma madeira velha que range a cada passo. Talvez humidade. Por enquanto, mantém os pés no tapete sujo que tem junto à cama. Tem os pés nus e o Inverno tem sido particularmente frio. Em pé. Aproxima-se da janela de onde vê a luz do dia a diminuir. O céu esteve limpo o dia todo e bastante luminoso. Pelo menos assim pensa, uma vez que a luz do sol entrou todo o dia no quarto, aquecendo o espaço. Abre a janela. Frio. O céu está carregado de tons alaranjados que prenunciam um dia de amanhã também luminoso. Amanhã também não faz tenções de sair de casa. Há quanto tempo não saía do quarto? Há quanto tempo se havia confinado? À parte ter que sair para usar o quarto de banho comum do andar, não saía para lado nenhum. E mesmo essas viagens a essa divisória do andar eram evitadas o mais possível. Não se queria cruzar com ninguém. Uma, duas semanas? Perdera a noção do tempo. Fechou a janela e voltou para a cama. Apagou o cigarro e pegou no livro para tentar ler um pouco. O Coração das Trevas. Konrad. Em tempos alguém lhe havia falado desse 44