Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 14

NINGUÉM É o nada com que começamos, ou o tudo que deixamos em busca de alguma libertação do zero? Enfim, o castelo tinha que ser protegido. Fortificações incrementadas, interiores salvaguardados. Uma sapiência, discípula de vivência, sussurrava mitos comprovados, truques adquiridos, saberes populares, ancestrais segredos divulgados. Havia que comer, havia que matar. Havia que não viver, mas sobreviver, escapar, por um tempo. Há que matarmonos a nós próprios com o simples e ávido intuito, instinto de ser. Assim acerquei-me à janela para ver a flora, vegetação. Quem haveria de comer hoje? A quem iria eu gritar para entrar? Quem iria ser a presa, a vítima, a ceia? Quem, de entre quês, meu almoço, meu jantar? Alguém, algo, terá que pagar para o meu andar. A viagem será longa de curta duração. Avistam-se aves de longo alcance, passeantes ruminantes, ocupados transeuntes, cegos, embriagados pelo segundo que os matou. Nenhuma vaca, tantos porcos. Quem será o escolhido da ementa? Quem será embalado e servido? A beleza que sobe a luz da calçada fica para sobremesa da noite. Não prato último, mas principal, sob a mesa. Crianças de tenra carne jamais caberiam em minha frígida frigideira. Não roubo ovos de aves de rapina. Os duelos estarão à 14