Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 11

VQPRD pulsão de mil sóis penetrar. O êxtase, mental punheta remata por fim o pensar. Este livro foi assim escrito enquanto numa rolha navegava num espesso rio grená. Não sangue, mas vida. Tinta. Cada palavra foi um trago naquele tempo em que a caneta era uma enxada. Bem varejei muita azeitona. Tal como o vinho, o livro tem um propósito. Nasce para se beber, para transbordar copos alheios. Escrevo então a todas as musas dos tempos. A vós, de séculos transactos, de poetas sorvidos. A vós, vindouras de um segundo perdido. Vossa imagem cristalizada, em tinta beijada. Anjos dançam na aparente roda de iluminação. Vosso passo é minha valsa. Alberto Janes canta agora através da voz de Amália. O fado, o vinho que canto desde o início dos tempos. Pura poesia. Extracto. Senhor Vinho, não te escrevo hoje. Bebo-te. Qualquer. IV Mais vinho para o homem cansado. Seu labor, predador de liberdades, retira nacos da sua arte, enquanto vagueia ora na sua mente, ora na sua folga. É por sobrevivência que temos horário dito laboral. É por estupidez que não temos a parvoíce. Laranjas a cair de uma árvore imensamente regada, podres, mortas no chão tijolo, enquanto olham no seu 11