A democracia sob ataque | Page 88

presença feminina nos Parlamentos gira em torno de 10 %, sendo que as mulheres são mais da metade da população . No ranking mundial , o Brasil ocupa o vergonhoso 116 º lugar entre 190 países , segundo a União InterParlamentar ( UIP ).
As taxas brasileiras ficam abaixo da média mundial , que chega a ser de 22,1 % de mulheres ocupando cadeiras nos Parlamentos . Os números brasileiros são ainda inferiores aos da média do Oriente Médio , com uma taxa de participação feminina de 16 %. Como avaliar esta questão , além do fator cultural , se existe um país como Ruanda , por exemplo , cujo Parlamento se tornou o mais feminino do mundo ? As mulheres ocupam 63 % das cadeiras . Sabese que as mulheres africanas lutam até mesmo para manterem-se vivas , entretanto , concretamente ocupam , hoje , espaços de poder e decisão . Além das inúmeras iniciativas peculiares àquela sociedade , mecanismos de ações afirmativas foram largamente utilizados . Sua Constituição de 2003 , por exemplo , além dos 30 % da cota no serviço público , instituiu vagas para mulheres , sempre visando à igualdade de oportunidades entre as pessoas .
O Brasil não pode copiá-los , mas é importante que saiba que , se este pequeno país da África conseguiu , qualquer outro poderá conseguir . Lembramos que as mulheres têm problemas na maioria dos lugares do planeta , imaginem num país que teve de ser todo reconstruído . Enfim , os avanços de Ruanda são complexos e específicos .
No Brasil , está muitíssimo difícil aos partidos atravessarem a barreira cultural , mas , também , deve-se lembrar que esta luta é recente e que são poucos aqueles que realmente acreditam no potencial da mulher . Vemos isso , por exemplo , em relação ao voto de mulheres em mulheres . Nem mesmo “ elas votam nelas ”, pois , senão , por serem a maioria da população , as mulheres teriam votações maciças .
Os partidos políticos , infelizmente , não derrubam efetivamente seu machismo nesta questão . Ao tempo em que aceitam a existência de um organismo voltado ao empoderamento das mulheres militantes , na hora das eleições pecam por não dar apoio efetivo . Não investem em candidaturas novas . No dia a dia , também o apoio é relativo . As direções ainda não compreenderam a importância de preparar novas candidaturas . Apenas compreendem que a Lei Eleitoral exige 30 % de mulheres em suas chapas eleitorais . Colocam os 30 %, passam pelo crivo da organização partidária e dos TREs , não se dando conta da importância do
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