A democracia sob ataque | Page 78

ções que precisam ser examinadas , em face daquilo que já atingimos , e em face daquilo que a nossa Constituição promete .
É claro que os brasileiros conquistaram direitos inalienáveis e direitos à informação como em nenhum Estado soberano ; é claro que transformaram o seu padrão de consumo , mas continuam carentes da falta de pudor e da correção política dos seus representantes . Isto , talvez , seja um defeito de fábrica , não somente dos políticos , mas também do povo , com o seu jeito malandro de ser , de extorquir a fiscalização e de querer impor a sua egolatria e as heranças da escravidão e do personalismo , com as quais a nação foi edificada .
Raimundo Faoro , Rui Barbosa , Paulo Bonavides e outros pensadores da nossa formação social e da nossa vida política , sempre recortada pelas suas crises , já refletiram acerca do caráter nacional brasileiro e mostraram que o Brasil é produto de uma intermitência de abalos institucionais que primam pelo personalismo e pela leniência .
A corrupção , entre nós , se aproxima de uma política de desmonte da Constituição e das suas regras e princípios . Contudo , apesar de ser o cancro da nação ou a alegoria de muitas eutanásias ou lixo do nosso esquecimento , ela precisa ser combatida de frente , com as armas da Constituição e da coragem , já empilhadas em todas esquinas do nosso território . As profecias constitucionais do juiz Sérgio Moro , feitas , ainda , na época do mensalão , começaram , de último , a germinar no país , e nelas já estava indicado que a corrupção não tem cores ideológicas de qualquer natureza , pois tanto a direita quanto a esquerda são nefandas , quando não envolvidas com os princípios políticos , acrescentando-se aqui que o ideal político mais seguro é a terceira margem , por onde escorre a aflição que se desloca da periferia contra a perversão das elites .
Mas , no Brasil , aqueles que conduzem a política institucional e partidária estão cegos e caminham pelo centro do poder com os olhos vendados : uns , espancando os fantasmas com os quais conviveram no passado ; outros , recusando-se a olhar o futuro , ou com o receio de vender o pouco que lhes resta da sua consciência . O espírito doloso da política sempre foi um veneno letárgico para o povo , desde a sistematização de Aristóteles até as estratégias de conquista e manutenção do poder , que fluem da obra de Maquiavel . No Brasil , contudo , este elemento infeccioso nos parece ainda mais sofisticado , porque recheado de componentes desumanos e porque produto da falta de escolas para a liberdade .
76 Dimas Macedo