A democracia sob ataque | Page 62

Na sua análise do começo de 1956 , “ O sentido da anistia ampla ”, Caio Prado Jr . valorizava a eleição de Juscelino Kubitschek , por ela ter tido origem em um forte movimento de opinião pública (“ sem dúvida uma das mais vigorosas afirmações da vontade popular registradas em nossa história ”), opinião pública que , primeiro , pesara na aceitação do resultado da eleição e , depois , impulsionara a mobilização pela posse do Presidente vitorioso nas urnas . Abria-se , dizia ele , um quadro com “ perspectivas promissoras ” para o processo político , havendo um “ sopro de renovação ” no governo , dado pelo fato de JK o ter constituído em um novo tempo em que “ as grandes transformações ocorridas desde a última guerra começam a amadurecer e se fazerem nitidamente sentir ” ( Revista Brasiliense , n . 4 , mar . -abr ./ 1956 ).
Mesmo sendo um governo formado em meio a acordos partidários (“ sem conteúdo ideológico e cimentados quase unicamente por interesses pessoais ”), o seu desafio consistia em dar passagem às forças renovadoras , antes dispersas , que se haviam reunido na eleição sob a forma “ de amplos setores da opinião pública ” mobilizados pela ideia de reforma ; aberto o caminho para que aquele despertar político se desenvolvesse em profundidade . ( Revista Brasiliense , n . 4 , mar . -abr ./ 1956 ).
No seu segundo artigo , “ A política brasileira ”, publicado no final de 1956 , comparando as poucas medidas “ positivas ” com as muitas “ negativas ” adotadas por Juscelino no transcurso do ano , Caio Prado Jr . centrava sua análise no plano propriamente da política , perscrutando as possibilidades reais das mudanças , realçando o papel dos partidos . Para ele , o desempenho do governo e da oposição (“ O que se pode observar é unicamente uma oposição que ataca , e um governo atacado que se defende ”) mostravase ser um terreno pantanoso por onde o grande programa de “ industrialização e desenvolvimento econômico ” ( sic ) que emergira na eleição ia se esvaindo em razão da “ improvisação , superficialidade e inconsequência da atual administração ”, ajustandose ao novo padrão de crescimento capitalista mediante “ medíocres dependências ” aos trustes internacionais em detrimento da mobilização da massa da população para o trabalho produtivo e eficiente . ( Revista Brasiliense , n . 8 , nov . -dez ./ 1956 ).
Este é o diagnóstico que fazia daqueles anos 1950 : “ O certo é que as instituições políticas brasileiras se acham desconjuntadas ”. E explicava : “ A sua base essencial , que são ou deveriam ser os partidos políticos , não tem consistência alguma ”. Os partidos precisavam , antes de tudo , começar a existir , afirmar “ a persona-
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