A democracia sob ataque | Page 44

pediu sua soltura , o que foi exemplarmente negado . Antes , o próprio ex-deputado fez questão de citar o nome do presidente Michel Temer como participante de reunião para escolha de diretores da Petrobras , o que ele nega . Parecia tudo orquestrado para que Moro cedesse e concedesse a liberdade ao peemedebista . O juiz de Curitiba , no entanto , viu nas declarações de Cunha uma tentativa de chantagear a própria Presidência da República , e disse que não cederia a pressões políticas .
A pressão política , no caso , vinha do próprio Cunha , que sonha com uma influência que não tem mais , e espera ser recompensado por supostamente haver autorizado a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff , quando exercia a presidência da Câmara . Na verdade , o impeachment atendeu a um anseio popular e a um preceito constitucional e não dependeu tanto de Cunha .
As críticas de alguns dos integrantes do STF à duração das prisões preventivas também foram respondidas por Sérgio Moro , no mesmo despacho em que negou a liberdade para Cunha : “ Se a firmeza que a dimensão dos crimes descobertos reclama não vier do Judiciário , que tem o dever de zelar pelo respeito às leis , não virá de nenhum outro lugar ”, e ainda ponderou : “ Apesar da crítica genérica do excesso das prisões preventivas , há atualmente cerca de sete acusados presos preventivamente sem que tenha havido a prolação de sentença na ação penal ”, e comparou as 79 prisões preventivas feitas durante os três anos da Operação Lava-Jato aos números da Operação Mãos Limpas , responsável pela descoberta de um esquema de corrupção envolvendo quase todos os partidos políticos na Itália nos anos 1990 e que , de acordo com o juiz federal , fez cerca de 800 prisões preventivas entre 1992 e 1994 , somente em Milão .
Para Sérgio Moro , as “ críticas genéricas ” às prisões preventivas da Lava-Jato se devem , sobretudo , ao encarceramento de grandes figurões do PIB e da política e refletem o entendimento comum de que algumas pessoas estariam acima da lei , ou como se diz por aí , que todos são iguais perante a lei , mas alguns são mais iguais .
Para justificar as prisões preventivas , ele lembra que o modus operandi da Lava-Jato quebrou o esquema de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef que , caso não tivessem sido presos preventivamente e delatado o esquema , poderiam estar , até hoje , de posse de seus ativos no exterior e talvez até recebendo propinas em contratos públicos .
42 Arnaldo Jordy