A democracia sob ataque | Page 37

Uma candidatura que os represente em 2018 não pode ser reduzida a um nome . Ela só fará sentido se for um programa em ação e traduzir uma articulação política superior . Sem a qualificação do debate democrático , a redução das polarizações artificiais e a diminuição da exasperação social , 2018 será mais um pesadelo que um sonho .
Uma plataforma democrática consistente não poderá crescer com pessoas que veem inimigos e conspiradores em todo canto , que fazem da contraposição uma arma que fere e alimenta polarizações paralisantes , que pensam que as disputas por poder são o sal da terra e que , convencidas do valor heurístico do conceito de “ luta ”, estão sempre dispostas a ativar atritos , combates e conflitos contra tudo e todos . Pessoas assim estão fechadas à cooperação e tendem a ver os “ moderados ” ( os que ponderam , dialogam e buscam ligações ) como uma espécie de raça inferior , formada por “ gente que capitula ”. Sua dialética é rígida , não produz sínteses , não pensa a superação . É uma dialética dicotômica , com dois únicos termos : a tese e a antítese , nós e eles , o bem e o mal .
Se olharmos hoje para o mundo da política em sentido estrito , para o sistema , o veremos de pernas para o ar , ofegante , desorientado . Entre o Estado democrático de direito e o sistema político há pouca harmonia e muita disjunção , como se faltassem algumas peças num quebra-cabeças complexo , de difícil finalização .
O sistema ameaça ruir em cada curva do caminho e ao sabor de uma brisa qualquer . Falta-lhe quase tudo para funcionar de modo satisfatório : partidos com capacidade operacional , rumos a seguir , centros de coordenação e lideranças . Está ilhado , isolado da sociedade , atraindo críticas e vaias em abundância , pagando um preço alto , como se fosse , em bloco , um agregado monocromático de “ máfias ” desqualificadas .
A política , que deveria coroar o sistema e dar-lhe vida , reverberando a Constituição e as boas práticas republicanas , foi empurrada para a margem .
O mal-estar entre as instituições se acentuou . Pequenas marolas , que na “ normalidade ” seriam contornáveis com facilidade , provocam tsunamis perturbadores . Legislativo , Executivo e Judiciário parecem não falar mais a mesma língua . Vivem trombando , cooperam pouco , competem demais . A crise derivada desse excesso de ruído e atrito , ao se reproduzir , espalha confusão por todos os lados , mina o pouco que há de confiança , corrói a esperança dos cidadãos e alimenta uma exasperação social que termina por se
Dilemas e desafios da política democrática
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