A democracia sob ataque | Page 35

curriculares consistentes , escolas convidativas tanto em termos espaciais e estéticos , quanto em termos tecnológicos e didático-pedagógicos ? Uma “ reforma do ensino médio ” deve seguir quais critérios ? Por que a abertura da grade curricular , de modo a torná-la mais opcional e mais flexível , não pode ser uma medida interessante ? Se não for , o que se deve propor no lugar ? Podemos nos dar ao luxo de ficar parados , sem experimentar , à espera de uma reforma que tenha a cara e as cores do que se considera perfeito ?
A reforma aprovada em fevereiro de 2017 tem pontos complicados e controvertidos , ao lado de outros que deveriam ser bem recebidos . Ela altera a estrutura do atual sistema e mexe , portanto , com coisas estabelecidas , interesses consolidados e uma cultura pedagógica enraizada . A proposta inicial do governo foi bastante modificada no Congresso , que atenuou alguns pontos mais polêmicos . A flexibilização da grade curricular , por exemplo , que é o centro da reforma , permite que os estudantes escolham eixos formativos mais afinados com seus interesses , mas poderá por em risco a permanência de disciplinas como História , Sociologia e Filosofia , tidas e havidas como vitais para uma boa formação . O Congresso Nacional deixou mais vaga a redação , empurrando a execução da medida para as escolas .
Ao propor a flexibilização da grade curricular , o novo modelo permitirá que o estudante escolha a área de conhecimento em que deseja aprofundar seus estudos . A nova estrutura terá uma parte comum e obrigatória para todas as escolas , organizada pela Base Nacional Comum Curricular ( BNCC ), e uma segunda parte flexível , com abertura até para a formação profissional . A BNCC definirá as competências e conhecimentos essenciais que deverão ser oferecidos a todos os estudantes na parte comum ( 1.800 horas ), abrangendo as 4 áreas do conhecimento e todos os componentes curriculares do ensino médio definidos na LDB e nas diretrizes curriculares nacionais de educação básica . Somente língua portuguesa e matemática serão obrigatórias nos 3 anos de ensino médio . O restante do tempo será dedicado ao aprofundamento em áreas eletivas , definidas em 5 eixos : I – linguagens e suas tecnologias ; II – matemática e suas tecnologias ; III – ciências da natureza e suas tecnologias ; IV – ciências humanas e sociais aplicadas ; V – formação técnica e profissional .
O desenho não é ruim , mas terá de ser analisado com base nas circunstâncias reais do sistema educacional , no qual faltam professores qualificados , o descontentamento é enorme , a desigualdade regional é acentuada e a infraestrutura das escolas não
Dilemas e desafios da política democrática
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