A democracia sob ataque | Page 190

Isso ocorre , na visão de Vacca , em razão do caráter assumido pelo processo histórico naquele momento . Nessa leitura , a visão de Gramsci acerca das primeiras décadas do século XX se encontra marcada pelo diagnóstico de uma crise de hegemonia , caracterizada pela incapacidade de construção de uma constelação hegemônica em nível global . Consequentemente , a revolução passiva , encarada como conceito responsável por apreender as modalidades pelas quais os equilíbrios de compromisso se constroem , se mostra insuficiente para interpretar as relações internacionais desse momento .
Esse amplo processo de revisão do marxismo culmina , para Vacca , na construção da filosofia da práxis . Essa construção , marcada pela transformação do materialismo histórico em filosofia da práxis , se encontra condicionada por uma mudança fundamental na concepção de sujeito , bem como por uma historicização integral da política e da economia . Ao se afastar das hipóteses causais e deterministas do marxismo de sua época , Gramsci logrou construir uma teoria da constituição dos sujeitos no mundo contemporâneo , na qual a questão da formação de uma vontade coletiva emerge como um dos aspectos centrais para a formação de um mundo unitário , regulado globalmente a partir da hegemonia . Assim , na leitura de Vacca , a filosofia da práxis aparece como uma teoria da “ constituição dos sujeitos políticos baseada gnosiologicamente no conceito de hegemonia e historiograficamente no de revolução passiva ”. ( Vacca , 2016 , p . 263 ).
Com isso , a filosofia da práxis se baseia em um princípio imanente da história responsável por superar o caráter geralmente mecânico e determinista que as relações entre estrutura e superestrutura assumiram no interior do marxismo . Ao historicizar a própria noção de mercado , Gramsci pôde rever também as perspectivas liberais que consideravam de modo orgânico a separação entre Estado e sociedade civil , apontado como tais dimensões se solidificam a partir de um intrincado jogo de forças que se chocam historicamente .
Nessa leitura , a noção da história própria da filosofia da práxis se baseia em jogo antagônico de forças imprevisível em razão de sua regulação política . Nos termos de Vacca , a dialética gramsciana aparece como um movimento no qual a formação do par amigo-inimigo se torna impossível , uma vez que o choque das forças em questão não significa anulação de uma das forças , mas um processo de síntese que caminha para um equilíbrio em movimento perpétuo . Como consequência dessas noções de história e
188 Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira