A democracia sob ataque | Page 138

dos ímpios , punir delitos , quando possível usar clemência , mas quando não , aplicar punições e castigos . Porém , não derramando sangue inocente ou se utilizando de violência gratuita , e ainda amparando os pobres e carentes . Devem igualmente defender a propriedade e a honestidade , garantindo o bem-estar e a paz de seu povo .
Sendo assim , Calvino é contra a anarquia , pois vê a necessidade do Estado , afirmando que a autoridade civil é uma vocação legítima , a mais sagrada e honrosa de todas . Com o poder que os governantes têm , ele os alerta para não cederem a paixões pessoais , pois isso desvirtuaria sua autoridade . Segundo Calvino , eles devem se guiar pela ideia de bem público e não manifestarem ódio nem mesmo em relação àqueles que têm que ser punidos .
João Calvino teve a oportunidade de colocar em prática o que defendeu sobre o Estado , quando foi chamado para ajudar na Reforma de Genebra . Porém , apesar da influência que tinha na cidade , nunca se tornou um ditador , pois estava sob a autoridade do Conselho Municipal . Vale perceber também que ele teve grande influência não apenas nas questões religiosas da região , mas também participou de decisões políticas e sociais .
O seu pensamento com relação à política teve continuidade na obra de alguns de seus seguidores como Abraham Kuyper , Wayne Grudem , David T . Koyzis , Herman Dooyeweerd e Franklin Ferreira . Todos eles tratam de política de alguma forma , com focos e ênfases diferentes , mas tendo como referência o pensamento do reformador francês .
A defesa do papel do Estado é ponto comum em todos os pensadores calvinistas . O Estado possui o poder de coerção , a ser utilizado em defesa do bem comum , a República sendo para eles a melhor forma de governo . Apesar da defesa da presença do Estado , os calvinistas enfatizam que os cidadãos devem sempre vigiar o poder estatal para que este não restrinja a liberdade dos cidadãos .
Os calvinistas defendem a independência da família e do Estado , bem como a autonomia da escola , das artes , da igreja e do trabalho , já que estas , como Kuyper define , são esferas distintas que não podem ser misturadas . Sendo assim , é necessário evitar a confusão entre as linguagens delas . O Estado , portanto , não é um todo com suas partes ; cada uma destas constitui uma esfera distinta e soberana , ainda que sob uma única fonte de poder e autoridade , que é Deus . O Estado , porém , pode intervir nas demais em questões pontuais , quando , por exemplo , for necessá-
136 Stephanie Becker