A democracia sob ataque | Page 135

assemelhadas a meros panfletos . Os exemplos são tantos e tão notórios que não merecem ser listados ;
( 6 ) Retrospectivamente , minha impressão é que estudamos muito pouco , nossos esforços são totalmente insuficientes , sem rigor e nem disciplina , sem estratégia teórica e sem os esforços intelectuais necessários . Somente assim para entender porque acumulamos tão pouco , em termos de conhecimento geral sobre os processos sociais rurais . Se este é o quadro geral , no subgrupo da EA a situação atual é ainda mais sofrível , pois são colegas que escrevem e falam sobre temas inacreditáveis . Tome-se como ilustração o absurdo exemplo da “ agroecologia ”, aceita acriticamente através de importação imposta pelas nossas tradições de comportamentos colonizados e , espantosamente , sendo uma palavra repetida sem que ninguém da EA faça algumas perguntas imediatas que até o senso comum imporia : qual é o conceito ou a problemática teórica da agroecologia ? E , em especial , qual o formato tecnológico que sustenta tal noção ? Mesmo sem respostas para estas perguntas ( pois não existem ), continua a marcha da completa insensatez em torno da palavra mágica “ agroecologia ”;
( 7 ) Como a EA é um subgrupo da “ esquerda em geral ”, repetem-se as “ obrigações ideológicas ” desse campo . E são posturas completamente contraditórias , na maior parte das vezes . De um lado , se aceita o ridículo relativismo atualmente defendido pelo campo da esquerda em geral , sob o qual qualquer grupo social , minúsculo que seja , pode defender sua “ cultura ”, hipervalorizando-se “ a diferença ”, sem se preocupar com indicadores objetivos e empíricos que assim justifiquem a segmentação . Mas , em oposição , a esquerda em geral está também presa à noção de universalidade que , igualmente , produz aberrações inacreditáveis . Uma delas é a aplicação da categoria “ trabalhadores ” a diferentes conjuntos sociais que , de fato , são membros da classe média , inclusive em regiões rurais . Não comentarei aqui o infinito absurdo que tem significado a expressão “ agricultura familiar ” ( tema sobre o qual já escrevi em demasia ), mas , o que justifica intitular de trabalhadores as famílias rurais moradoras em pequenos estabelecimentos rurais ? Sociologicamente , estas famílias seriam componentes dos estratos de uma “ baixa classe média ” ou , as mais pobres , integrariam uma parte do “ sub-proletariado rural ”. Para que serve então uma das categorias centrais da tradição marxista , o conceito de classe social ?
( 8 ) Não me estenderei mais longamente sobre este ponto , mas a esquerda agrária não sobreviverá se não for para o campo e inten-
Qual o futuro ( próximo ) da esquerda agrária ?
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