A democracia sob ataque | Page 125

tário , o Estado seria proprietário único dos meios de produção , do capital e da distribuição .
Em oposição ao socialismo utópico , Friedrich Engels propõe a utopia do socialismo científico . Com base nos estudos e pesquisas do fundador da filosofia da práxis , transforma capítulos de sua obra polêmica com o pensador positivista Eugen Dühring no panfleto Do socialismo utópico ao socialismo cientifico que se constituiu desde então , no manual da nova utopia para a educação de amplos setores do Ocidente .
O que propunha o autor da utopia cientifica ? A classe do proletariado tomaria o poder político e , por meio dele , converteria em propriedade pública os meios sociais de produção . Com esse ato livraria os meios de produção da condição de capital , que tinham até então . Daria a seu caráter social plena liberdade para se impor . A partir desse fato já seria possível uma produção social segundo um plano previamente elaborado . O desenvolvimento da produção transformaria num anacronismo a sobrevivência de classes sociais . À medida que desaparecesse a anarquia da produção social , iria diluindo-se também a autoridade política do Estado . Os homens , donos por fim de sua própria existência social , tornar-se-iam senhores da natureza , senhores de si mesmos , homens livres . A realização desse ato , que redimiria o mundo , seria missão histórica do proletariado moderno .
As diversas utopias exprimiam , na verdade , uma crítica das sociedades existentes em seu tempo . Ao mesmo tempo introduziram a igualdade econômica como a base para as reformas idealizadas . Mas , consideravam , só possível estabelecer essa mesma igualdade pela via de atos de vontades desde o alto : sem a política , sem a democracia .
Com a visão crítica a respeito das utopias como ato de vontade , o pensador italiano Antonio Gramsci chegou a escrever um texto nos Cadernos do Cárcere muito significativo : “ Não é talvez a reação , também ela , um ato construtivo de vontade ? E não é ato voluntário a conservação ? Por que , então , seria “ utópica ” a vontade revolucionária de Maquiavel , e não utópica a vontade de quem pretende conservar o existente e impedir o surgimento e organização de forças novas que perturbariam e subverteriam o equilíbrio tradicional ? A ciência política abstrai o elemento “ vontade ” e não leva em conta o fim a que uma vontade determinada é aplicada . O atributo de “ utópico ” não é próprio da vontade política em geral , mas das vontades particulares que não sabem ligar o meio ao fim
A utopia e os direitos
123