A democracia sob ataque | Page 108

Tecnologia para diminuir diferenças
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Arnaldo Jardim

O protagonismo do agronegócio na economia brasileira não é por acaso . O setor que registra hoje uma participação de mais de 21 % na composição do PIB ( Produto Interno Bruto ) avança extraordinariamente graças aos investimentos de instituições públicas e privadas na pesquisa científica , que se desdobram na inovação tecnológica e têm propiciado o aumento contínuo da produção e da produtividade no campo .

Responsável por 48 % das exportações totais do Brasil , segundo a CNA ( Confederação Nacional de Agricultura ), a estimativa era que só no ano passado os produtos do agronegócio garantiriam um saldo comercial de aproximadamente US $ 72,5 bilhões , gerando não só divisas , mas renda , emprego e a definição de novas tecnologias na produção de alimentos . A pujança dos números , no entanto , não reflete o intenso debate que mobilizou ao longo dos anos vários segmentos da sociedade brasileira , dos produtores rurais à comunidade científica , sobre a questão da biotecnologia e dos transgênicos .
O Brasil já contava com a Lei de Biossegurança – cujo texto é quase todo de autoria do então relator da matéria na Câmara dos Deputados , o ex-deputado federal Sérgio Arouca ( PPS-RJ ) –, quando o PPS promoveu , em 2003 , um intenso debate sobre a produção , a pesquisa e a comercialização dos transgênicos , na esteira da colheita da safra de soja do Rio Grande do Sul , quase toda ela plantada com sementes transgênicas trazidas clandestinamente da Argentina , e da ambiguidade do então governo Lula em relação ao assunto .
O PPS , então , situava-se ao lado do avanço da ciência , da questão da biotecnologia e dos transgênicos diante do contínuo processo de transição nos modos de produção que representa a superação da sociedade industrial e o ingresso na era do conhecimento e da comunicação . A compreensão foi de que a engenharia genética e os organismos geneticamente modificados faziam parte da marcha histórica contra o atraso e o obscurantismo em relação à ciência e à pesquisa no papel de agentes de mudança e transformação da atividade produtiva brasileira .