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6 | Cidade Nova | Janeiro / Fevereiro 2023
Entrevista | Gustavo Monteiro | revista @ cidadenova . org . br
Por uma cultura do diálogo

Margaret Karram

Presidente do Movimento dos Focolares

“ Devemos ser a harmonia das diferenças ”

FOCOLARES Tendo assumido , durante a pandemia , a presidência do Movimento fundado por Chiara Lubich , a atual líder mundial dessa obra da Igreja reflete sobre os desafios da sua gestão e oferece também uma visão sobre o atual momento político do Brasil
OS LUGARES não são nunca casuais . Foi em um território específico e historicamente disputado de forma violenta por diversos grupos ao longo da história que nasceu Margaret Karram em 1962 . Sua infância no Oriente Médio , mais precisamente na cidade de Haifa , na Terra Santa , é marcada pelos ensinamentos da família católica palestina sobre como responder com amor e respeito a qualquer tentativa de intimidação . Aos 14 anos , a sua tendência natural em valorizar o próximo ( seja ele quem for , independente da origem ou religião ) encontra solo fértil na Espiritualidade da Unidade , do Movimento dos Focolares , do qual ela passa a fazer parte por meio do hábito de colocar em prática as passagens do Evangelho como “ Palavras de Vida ”.
De fato , Chiara Lubich , a fundadora e primeira presidente da Obra de Maria ( nome oficial do Movimento , assim aprovado pela Igreja ), definia os seus membros em mais de 180 países como “ um povo novo nascido do Evangelho ”. Dentro desse povo , estão presentes cristãos de diversas igrejas , fiéis de outras religiões e pessoas sem referencial religioso , que procuram “ ser família ”.
Foi no início de 2021 , ainda durante a pandemia do Covid-19 , que Margaret Karram foi eleita como presidente do Movimento dos Focolares , sendo a segunda mulher a assumir o cargo depois da fundadora . Aos 60 anos de idade e há quase dois anos na presidência , Margaret Karram concedeu uma entrevista exclusiva à Cidade Nova brasileira , quando falou sobre os desafios do cargo , a motivação por trás das primeiras diretrizes oferecidas aos membros do mundo inteiro , e o que os brasileiros podem descobrir com a polarização política .
O fato de ser a primeira presidente não italiana e não europeia representa algum desafio para você ?
O verdadeiro desafio é ser presidente . É um Movimento complexo , muito grande , do qual fazem parte pessoas de culturas diferentes , provenientes de todos os continentes , de tantas igrejas , de várias religiões . Também fazem parte pessoas inclusive sem nenhum referencial religioso . Os membros vão de crianças a adultos , a famílias , a sacerdotes e religiosos . É um Movimento que contém muita diversidade . E isso pode representar um desafio não só para mim , mas para qualquer um que seja presidente de algo assim tão complexo . Mas isso não no sentido negativo , no sentido belo . [ Essa diversidade ] é um desafio , mas pode ser também a nossa maior riqueza .
O fato de que na assembleia de 2021 tenham elegido a mim ( que venho de longe , da Terra Santa , uma outra parte do mundo em relação à Itália e à Europa ), eu não vejo como uma coisa estranha . Acho que é também bonito , porque mostra a universalidade do Carisma da Unidade . Isso me faz dizer que o carisma é para todos , para todas as culturas e para todos os povos .
Sendo sincera , devo admitir que , para mim , ser presidente é um grande desafio . Mas não pelo fato de eu não ser europeia , mas porque o Movimento requer tanto . Vejo isso , porém , como uma oportunidade de ter diante de mim o mundo inteiro , ao qual posso amar , com o qual posso “ fazer-me um ”, partindo da minha cultura , e procurar , o máximo possível ( é um empenho de cada dia ), entrar nas outras culturas .
Eu sinto que preciso ser eu mesma . Preservar as características humanas , pessoais e históricas que eu

6 | Cidade Nova | Janeiro / Fevereiro 2023